"Burocraticamente confinado, camará, creio que só uma roda de capoeira a céu aberto - numa praça pública, à beira da praia, onde fosse - faria valer a pena esta tarde ensolarada de agosto".
O desabafo - que me voltou à mente, num brusco golpe de saudosismo, depois de quase um ano - ainda faz crônica. O dia - por aqui, pelo menos - continua burocrático e ensolarado, embora os ventos indiquem uma boba queda de temperatura. Sensações de outono. Mas agora, em vez do asfalto, eu queria mesmo era o velho piso de madeira do Ilê (foto).
Do iorubá, como se sabe, ilê significa casa. Ou também pode significar a maneira - simples, íntima - como a gente costuma se referir ao espaço-sede da União Angoleira do Estado do Rio de Janeiro, a ACIMBA, Associação Cultural Ilê Mestre Benedito de Angola.
Templo profano-sagrado da capoeira angola carioca, cravado no centro da cidade, ali na Leandro Martins, entre a Marechal Floriano e a Praça Mauá, o Ilê já testemunhou notáveis vadiações. Algumas delas sequer registradas em youtubes. Apenas editadas em nossas memórias.
A primeira vez em que fui ao Ilê - se bem me lembro - foi em meados de 2007. Depois de dez anos praticando capoeira contemporânea (que nada tem a ver, seus mestrões, com a regional de Bimba, ok?), decidi abandoná-la para buscar um antigo sonho: me dedicar, por total, à capoeira angola.
Foi quando, por intermédio de mestre Fred Mussa (no atabaque), irmão do escritor Beto Mussa (ambos sobrinhos do imortal Didi, poeta maior da União da Ilha e do Salgueiro), cheguei ao mestre Brinco (o de chapéu, no berimbau) e, pouco depois, ao mestre Neco Pelourinho. De lá pra cá, foram várias as voltas em que dei ao mundo, camará... Sempre orientado, claro, por esses três grandes angoleiros, de quem hoje sou discípulo.
Volto a dizer: só mesmo uma vadiação no Ilê - com meus mestres, de preferência - faria valer a pena esta sexta ensolarada de abril. Iê, salve o Ilê, camará...
Artigo retirado do blog pessoal de Felipe Bezerra: http://primocruzado.blogspot.com/2010/04/dende-do-ile.html
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